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Ouvi hoje no noticiário, que os americanos propõem que seja retirado a Egas Moniz o prémio Nobel da Medicina que lhe foi atribuído em 1949 ( como se pode retirar algo a alguém que já morreu? Saberão os americanos que o senhor já morreu? ). Fiquei à espera da explicação para tão radical proposta. E o jornalista lá foi explicando. Parece que um conjunto de familiares de doentes submetidos à técnica da lobotomia vem agora reclamar que seja feita justiça. Egas Moniz começou a utilizar a técnica, em Lisboa, em 1936, em doentes com graves perturbações psiquiátricas. A operação consistia em realizar, através de orifícios feitos no crânio, pequenas incisões nas fibras nervosas do lobo frontal ( e não cortar "bocados" de cérebro como tantas vezes se ouve quando se aborda esta temática). Parece que os americanos, como é costume, decidiram começar a utilizar a técnica em massa. Durante cerca de 40 anos, o médico americano Walter Freeman fez mais de 50 mil leucotomias ou lobotomias! Fazia-as em qualquer "vão de escada". Primeiro no seu escritório, depois numa carrinha, a "lobotomobile". Para fazer os orifícios no crânio chegou a utilizar um picador de gelo! Enfim, um autêntico filme de terror... É claro que a grande maioria destas intervenções teve resultados horríveis! Sem querer entrar num orgulho nacionalista ridículo e sabendo que esta temática foi sempre alvo de muita controvérsia, quero deixar aqui as palavras do neurologista Alexandre Castro Caldas: "O prémio Nobel foi-lhe ( a Egas Moniz ) atribuído por um trabalho que abriu portas a um desenvolvimento científico e não pela prática clínica. Nos anos 30, a leucotomia representou um progresso enorme no conhecimento de funções cerebrais. Foi aí que se estabeleceu pela primeira vez uma relação directa entre a doença mental e a estrutura cerebral. A aplicação errada da técnica desenvolvida por Egas Moniz não lhe pode ser imputada." Também o professor João Lobo Antunes diz: "Tenho estudado a vida e o trabalho de Egas Moniz e sempre me irritou um pouco a forma como as pessoas olham a leucotomia cerebral, sem a colocarem na perspectiva histórica correcta." Não nos chegavam já os "velhos do Restelo" que andam por aí, sempre dispostos "a deitar abaixo" tudo o que é nacional? Faltava-nos agora um bando de americanos loucos que se atrasou a reclamar e, por isso, já não recebe qualquer compensação e quer mais uma vez mostrar ao mundo que quer, pode e manda?
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