A culpa é de quem?
Em conversa com uma amiga confirmei duas coisas que já há muito tempo suspeitava: 1º -perante as situações menos boas da vida, os portugueses adoram ficar quietinhos no seu canto a lamentar-se;
2º -como não fazem nada para dar a volta a essas situações menos boas, tratam sempre de arranjar algo ou alguém que carregue com a culpa (é muito mais fácil do que ir à luta e tentar mudar o que está mal).
Logo no início dessa conversa já a minha amiga se queixava loucamente da vidinha. Perante alguns conselhos meus que implicavam entrar em acção, mexer-se, enfim, fazer alguma coisa para mudar, a minha amiga apresentou as desculpas do costume: que não podia fazer nada, como é que ela podia fazer alguma coisa se a culpa não era dela, blá, blá, blá…… E terminou com a expressão já mais que batida: o que é que tu queres? É o país que temos…
Percebi logo que a minha amiga estava desejosa de personalizar a culpa dos seus problemas, mas nesta altura da conversa o meu telefone fixo pifou (está estragado há um tempo e não aguenta muito mais do que 20 ou 30 minutos de conversa – sinceramente nem sei se o mande arranjar).
Fiquei um pouco a pensar no assunto. Sabia muito bem qual o nome que lhe dançava nos lábios: Sócrates! A culpa é do Sócrates! Zangou-se com o marido ou o namorado? A culpa é do Sócrates! Deixou queimar o assado? A culpa é do Sócrates! Partiu uma unha? A culpa é do Sócrates! Apanhou um fungo no balneário do ginásio? A culpa é do Sócrates. Engordou uns quilitos? A culpa é do Sócrates. Os filhos dão-lhe conta da cabeça? A culpa é do Sócrates. Não consegue atingir o orgasmo? A culpa é do Sócrates. Não consegue deixar de fumar? A culpa é do Sócrates.
Os portugueses deviam agradecer a José Sócrates. Ao fim de anos e anos de queixumes abstractos (eles é que têm a culpa….) têm agora a oportunidade de dar um nome próprio ao culpado das suas desventuras.
Até nisso José Sócrates é bom: é o bode expiatório que todos esperavam.
Por mim estou bem e a culpa… é do Sócrates!