Ontem foi dia de sentir, hoje é dia de pensar ou de como com papas e bolos se enganam os tolos
Agora que o tempo já cumpriu o seu papel e a emoção já não me embota a razão, agora que já consigo refletir sobre os acontecimentos, confesso que, realmente, este governo é de uma perversidade que vai acabar por nos levar à desgraça completa.
O que se passou ontem em frente à Assembleia da República foi um dos planos mais bem urdidos a que já assisti no meu país (felizmente era muito pequena quando se urdiam com regularidade planos parecidos com este. Desses tenho apenas conhecimento, mas assistir na primeira pessoa é realmente aterrador).
Não vou aqui narrar o que se passou ontem. Já muitos o fizeram e de perspetivas muito diferentes.
Deixo apenas algumas ideias/questões para reflexão:
1 - Sabemos que as manifestações da CGTP são organizadas ao milímetro. Mas ontem conseguiram "despachar" tudo numa hora e trinta minutos. Na conferência de imprensa, à noite, Arménio Carlos deixou entrever nas entrelinhas do seu discurso que já esperava que aquela manifestação descambasse em violência.
Pk não avisou então as centenas de pessoas que ficaram em frente à AR? Pk isso não fazia parte do "guião" da "sua" manifestação? Pk quer continuar a ser "o dono" da rua? Pk, afinal, é apenas mais uma peça da engrenagem da qual este governo também faz parte?
2 - Em frente ao cordão policial, a escassos metros, às 17 horas, eram 5 ou 6 as pessoas que atiravam pedras.
Pk não atuou a polícia como nas outras manifestações, levando um a um pelas escadas da AR acima aqueles que estavam a provocar distúrbios? Pk esperou uma hora e meia para finalmente carregar sobre TODOS os manifestantes? Pk permitiu a polícia que a situação derivasse para uma onda de violência que deixou um rasto de destruição por vários locais de Lisboa? Pk acabou a polícia, já a altas horas da noite, a prender aleatoriamente pessoas que nem sequer tinham estado na AR?
Pk "quis" mostrar a sua paciência e serenidade? Pk "quis" que todo o país visse (os acontecimentos estavam a ser passados em direto em vários canais de TV) que aquelas centenas de pessoas não passavam de um bando de arruaceiros e, como tal, a partir daquele momento, vai passar a agir sempre assim castigando as centenas de "perigosos radicais"? Pk "quis" que o país visse que manifestações destas nunca mais serão permitidas (a partir daquele momento só as manifestações da CGTP, ordeiras e organizadas a gosto do governo)?
3 - Às 20 horas Miguel Macedo falou ao povo. Elogiou (pasme-se) a CGTP. Disse que os incidentes foram provocados por "profissionais da desordem." Profissionais a mando de quem Sr. Ministro?
De tudo isto fica bem claro (tudo o resto é muito obscuro) o seguinte: o dia de ontem serviu dois interesses, o interesse da CGTP que assim recuperou o seu estatuto de "dona" da rua, tendo direito a conferência de imprensa onde se arvorou também "dona" da greve geral; e o interesse do governo que assim conseguiu, a partir de ontem, uma justificação para poder carregar sobre todas as manifestações que não sejam ordeiras e organizadas a seu gosto.
A CGTP e o governo são, afinal, peças de uma mesma engrenagem. Só que, em pouco tempo, uma delas vai ser completamente desfeita pela outra. Esperamos, nessa altura, ver a sua reação.