Estou farta das analogias torpes entre a época que estamos a viver e a época do Estado Novo.
Estou pelos cabelos!
Não é que estas analogias não tenham existido sempre, desde o 25 de Abril. Mas era uma minoria (ou será que não?) que as fazia, o que não deixava de me irritar solenemente, claro. Mas agora, de dia para dia, engrossa este rio de lama nojenta. Todos os dias oiço alguém dizer: "Pelo menos, nessa altura, havia comida na mesa" ou qualquer coisa do género.
Havia comida na mesa (quando havia), mas não havia informação, não havia cultura, não havia LIBERDADE. Será preciso relembrar isto às pessoas? Éramos um povo atrasado, fechado ao exterior, onde as taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo eram enormes. Seré preciso relembrar isto às pessoas? Eu já me questiono se as pessoas saberão isto!!!!
Éramos um povo de pobrezinhos honestos.
Depois veio o 25 de Abril. Cada vez mais me convenço que o 25 de Abril foi "coisa" de umas quantas pessoas. Depois destas quantas pessoas terem "aberto as portas", vieram aos milhares para as ruas cantar a liberdade. Mas estou convencida que se essas quantas pessoas nada tivessem feito, os milhares continuariam (quem sabe ainda hoje) pobrezinhos, mas honestos. E não se importariam muito com isso.
O nosso povo não dá grande valor à cultura, à liberdade de expressão. Se as tiver, ok, tudo bem. Se não as tiver, não luta por elas com unhas e dentes.
"É preciso é ter comida na mesa."
Por isso tenho medo que os quase 40 anos de evolução se percam em muito pouco tempo. Este governo e a corja que gravita à sua volta ( Jonets, Ulrichs, Nogueiras Leite, Gregórios Novo e outros que agora sairam das covas escuras onde estavam hibernados e já dizem o que pensam sem cosméticas políticas e sociais) têm o perfil perfeito para levar a cabo essa tarefa. O povo, esse, é facilmente manipulado. Num ano e meio conseguiram pô-lo a pensar que "pelo menos nesse tempo havia comida na mesa". Faltará muito pouco para que desista completamente de tudo o resto: cultura, informação, LIBERDADE. Esta estratégia é velha. Empobrecer um povo (física e espiritualmente), colocar-lhe na frente o espectro da fome (a sua e a dos seus filhos). É meio caminho andado para se conseguir o resto. Tarefa facilitada com um povo para quem o valor da LIBERDADE e a importância da CULTURA nunca pesaram muito na balança das suas prioridades.
E então voltaremos a ser pobrezinhos, mas honestos; voltaremos a ter comida na mesa (voltaremos???), mas seremos incultos, desinformados e deixaremos de saber o que é a LIBERDADE.
NÃO QUERO!
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