Centenas de emigrantes portugueses, a maioria residentes em Franca, transformaram hoje à tarde o Rossio, em Lisboa, na "praça da resistência" em protesto contra a reestruturação da rede consular anunciada pelo governo.
Numa concentração que reuniu ao longo de duas horas emigrantes em protesto contra o encerramento de quatro consulados de Portugal em França, as críticas ao governo pontuaram as várias intervenções de portugueses residentes no estrangeiro.
David Brito, que reside em Orleães, Franca, um dos consulados a encerrar segundo a proposta do governo, deslocou-se propositadamente da Póvoa do Varzim a Lisboa para participar na concentração.
"Estou contra o encerramento dos consulados, porque se é necessário tratar de algum papel, tenho que perder um dia de trabalho para ir a Paris", que dista cerca de duas horas do seu local de residência, disse à Lusa David Brito, que nasceu em França.
Este emigrante, que se diz sentir português, salientou que a decisão do governo vai fazer com que muitos dos emigrantes deixem de ser portugueses.
"Vamos voltar ao tempo em que os meus pais emigraram na década de 1970, com filas à porta do consulado de Paris", adiantou David Brito, que envergava ma camisola com o símbolo nacional e empunhava uma bandeira de Portugal.
Belarmina de Sousa, a viver há 38 anos em Versalhes, onde deverá encerrar outro dos consulados anunciados pelo governo, deslocou-se hoje de Vila Nova de Paiva, onde nasceu, para protestar contra a decisão do executivo português.
"Rejeito o encerramento dos consulados, porque faz falta ver a bandeira de Portugal colocada num edifício em Versalhes", salientou, lamentando ter que passar a deslocar-se a Paris sempre que precisar de tratar de questões consulares.
Em declarações aos jornalistas, António Fonseca, porta-voz do Colectivo de Defesa dos Consulados de Portugal em França, entidade promotora do protesto, manifestou-se disponível para ajudar o governo português a encontrar uma solução que evite o encerramento dos quatro consulados.
Como exemplo, referiu que a câmara municipal de Tours, França, já propôs ao governo português instalações gratuitas para o consulado de Portugal.
António Fonseca reafirmou que esta decisão não tem motivos reais, até porque, acusou, "um dos motivos que o governo alega é economicista. Não tem razão de ser", frisou.
Segundo António Fonseca, nos quatro consulados a encerrar em Franca, o governo português gasta diariamente 600 euros, enquanto, também diariamente, aqueles postos produzem uma receita de 5 mil euros de emolumentos consulares.
António Fonseca lamentou ainda que um terço dos consulados que o governo quer encerrar sejam em França, país que acolhe mais de 1 milhão de portugueses e luso-descendentes.
Para António Fonseca "há um desequilíbrio total", uma vez que a região norte de França, onde vivem 700 mil portugueses, apenas vai ficar com quatro consulados (depois do encerramento) e na região sul, onde residem 300 mil portugueses, ficará a contar com cinco postos consulares.
António Fonseca assegurou ainda que "os emigrantes não vão baixar os braços. Vamos continuar esta luta".
Manuel Custódio, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Paiva (PSD), disse à Lusa que esteve presente na concentração para manifestar o seu apoio aos emigrantes do seu concelho, onde 50 por cento da população reside no estrangeiro, sobretudo em França.
"Vila Nova de Paiva é um concelho de emigrantes. No mês de Agosto a população mais que duplica, passando de 6 mil para 13 mil", salientou, acrescentando que é na sua região que fica Queiriga, "a freguesia mais francesa de Portugal".
Manuel Custódio frisou ainda que o governo ao encerrar os consulados vai contribuir "directa ou indirectamente para a desertificação do interior do país, pois muitos dos emigrantes vão deixar de vir a Portugal de férias", alegou.
Na concentração do Rossio estiveram ainda presentes organizações dos ex-militares de França e do Luxemburgo, em protesto contra o não-reconhecimento do tempo de serviço para efeitos de reforma.
in, Mundo Português